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| Saw palmentto Serenoa repens |
Serenoa repens (Saw Palmetto): Uma Revisão da Composição Química, Atividade Farmacológica e Aplicações Clínicas na Hiperplasia Prostática Benigna e Alopecia Androgenética
Resumo
A Serenoa repens (W. Bartram) Small, popularmente conhecida como Saw Palmetto, é uma palmeira anã nativa da América do Norte, cujos extratos do fruto maduro são amplamente utilizados na fitoterapia. Esta revisão tem como objetivo sumarizar a composição química primária, os mecanismos de ação propostos e as evidências clínicas de seus usos mais comuns, nomeadamente no tratamento dos Sintomas do Trato Urinário Inferior (STUI) associados à Hiperplasia Prostática Benigna (HPB) e na Alopecia Androgenética (AAG). Os principais compostos bioativos são os ácidos graxos e fitoesteróis, que exercem atividades antiandrogênicas e anti-inflamatórias.
1. Introdução
A utilização de produtos naturais como alternativa terapêutica tem crescido globalmente. A Serenoa repens destaca-se como um dos fitoterápicos mais estudados, especialmente para condições urológicas masculinas. O interesse reside na sua capacidade de modular processos hormonais e inflamatórios que são cruciais na etiologia da HPB e da AAG.
2. Composição Química e Fitoquímica
O extrato padronizado de Serenoa repens é predominantemente uma fração lipidoesterólica obtida dos frutos. A composição ativa consiste principalmente em:
Ácidos Graxos: Correspondem a 85-95% da fração lipidoesterólica, incluindo ácido oleico, ácido láurico, ácido mirístico e ácido palmítico.
Fitoesteróis: Como o $\beta$-sitosterol, cicloartenol e estigmasterol.
Álcoois Graxos de Cadeia Longa.
A padronização dos extratos é crucial, geralmente focada no teor de ácidos graxos (frequentemente acima de 80-90%).
3. Mecanismos de Ação Farmacológica
Os efeitos terapêuticos da S. repens são atribuídos, primariamente, à sua atividade antiandrogênica e anti-inflamatória:
Inibição da 5$\alpha$-Redutase: O principal mecanismo é a inibição não competitiva das isoformas Tipo I e II da enzima 5$\alpha$-redutase. Esta enzima é responsável pela conversão da testosterona em diidrotestosterona (DHT). A DHT é um andrógeno potente que estimula a proliferação celular prostática (HPB) e atrofia folicular (AAG).
Antagonismo de Receptores Androgênicos: Componentes do extrato podem atuar bloqueando competitivamente a ligação da DHT aos seus receptores citosólicos nas células prostáticas.
Ação Anti-inflamatória: Foi demonstrado que o extrato inibe as vias inflamatórias, como a ciclo-oxigenase (COX) e 5-lipoxigenase (5-LOX), reduzindo a produção de mediadores inflamatórios (prostaglandinas e leucotrienos) no tecido prostático.
Propriedades Antiestrogênicas: Alguns estudos sugerem um efeito de competição pelos sítios receptores de estrogênio, que também pode contribuir para a HPB.
4. Aplicações Clínicas e Evidências
4.1 Hiperplasia Prostática Benigna (HPB)
A S. repens é classicamente indicada para o tratamento sintomático da HPB leve a moderada, visando aliviar os STUI, como nictúria, polaciúria, jato urinário fraco e sensação de esvaziamento incompleto da bexiga.
Evidências: Meta-análises e revisões sistemáticas iniciais sugeriram que o extrato lipidoesterólico de S. repens melhorava os escores de sintomas urinários (IPSS) e parâmetros de fluxo (Qmax) de forma comparável ao placebo ou a alguns alfabloqueadores, com melhor perfil de tolerabilidade. No entanto, revisões Cochrane mais recentes (p. ex., 2023) concluíram que, em doses padronizadas de 320 mg/dia, a S. repens pode não fornecer melhora clinicamente significativa nos STUI ou no fluxo urinário em comparação com o placebo, questionando sua eficácia como primeira linha de tratamento.
4.2 Alopecia Androgenética (AAG)
Devido ao seu mecanismo de inibição da 5$\alpha$-redutase, o extrato de S. repens tem sido explorado para a AAG (calvície de padrão masculino e feminino).
Evidências: Estudos, incluindo revisões integrativas, indicam que a S. repens pode atuar como um agente antiandrogênico, com alguns ensaios clínicos demonstrando melhora na contagem total de fios e espessura do cabelo, e um perfil de efeitos colaterais mais favorável em comparação com inibidores sintéticos da 5$\alpha$-redutase, como a finasterida.
5. Segurança e Efeitos Adversos
A Serenoa repens é geralmente considerada bem tolerada. Os efeitos adversos mais comuns são leves e transitórios, frequentemente envolvendo o trato gastrointestinal (dor abdominal, náuseas e diarreia), especialmente quando administrada com o estômago vazio. Relatos de eventos mais graves, como hemorragia cerebral ou lesão hepática, são raros e a causalidade é frequentemente questionável. Precauções devem ser tomadas em pacientes que utilizam anticoagulantes ou terapia hormonal, devido a potenciais interações.
6. Conclusão
A Serenoa repens, através de seus extratos lipidoesterólicos, apresenta um perfil de atividade farmacológica bem estabelecido, notavelmente pela inibição da 5$\alpha$-redutase e ação anti-inflamatória. Embora historicamente a principal indicação tenha sido a HPB, e ainda seja amplamente utilizada para esta finalidade, as evidências clínicas mais robustas têm gerado debate sobre a magnitude de sua eficácia em comparação com tratamentos farmacológicos convencionais. No contexto da AAG, a S. repens emerge como uma alternativa promissora com baixo risco de efeitos colaterais sexuais.
Seriam necessários estudos de alta qualidade metodológica, utilizando extratos padronizados e definidos, com amostras maiores e acompanhamento de longo prazo, para elucidar definitivamente a eficácia da S. repens e estabelecer seu papel preciso no arsenal terapêutico.
Palavras-chave: Serenoa repens, Saw Palmetto, Hiperplasia Prostática Benigna, Alopecia Androgenética, 5$\alpha$-redutase, Fitoterapia.

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