%20-%20Uma%20Ferramenta%20Biotecnol%C3%B3gica%20no%20Controle%20Biol%C3%B3gico%20do%20Mosquito%20da%20Dengue.png)
Bacillus thuringiensis israelensis (Bti): Uma Ferramenta Biotecnológica no Controle Biológico do Mosquito da Dengue
Bacillus thuringiensis israelensis (Bti): Uma Ferramenta Biotecnológica no Controle Biológico do Mosquito da Dengue
Resumo
O Bacillus thuringiensis israelensis (Bti) é uma bactéria entomopatogênica amplamente utilizada como agente de controle biológico contra mosquitos vetores de doenças, especialmente o Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya. Este artigo revisa os aspectos microbiológicos, o modo de ação, a eficácia e as vantagens ambientais do uso do Bti, destacando seu papel essencial em programas sustentáveis de manejo integrado de vetores.
1. Introdução
A dengue é uma doença viral transmitida principalmente pela fêmea do mosquito Aedes aegypti, um vetor urbano de ampla distribuição em regiões tropicais e subtropicais. As estratégias tradicionais de combate, baseadas no uso de inseticidas químicos, têm enfrentado sérias limitações devido ao desenvolvimento de resistência e aos impactos ambientais. Nesse contexto, o Bacillus thuringiensis israelensis surge como uma alternativa biotecnológica eficiente e ambientalmente segura para o controle larval desses mosquitos.
2. Caracterização do Bacillus thuringiensis israelensis
O Bacillus thuringiensis (Bt) é uma bactéria gram-positiva, formadora de esporos, pertencente à família Bacillaceae. A subespécie israelensis foi isolada pela primeira vez em 1976, a partir de amostras de solo e larvas de mosquitos mortos em Israel. Diferencia-se das demais subespécies de Bt pela produção de cristais proteicos específicos (δ-endotoxinas) altamente tóxicos para larvas de dípteros, como mosquitos e simulídeos, mas inofensivos a outros organismos.
3. Mecanismo de Ação
Durante a fase de esporulação, o Bti produz inclusões cristalinas compostas por proteínas conhecidas como Cry e Cyt. Quando ingeridos pelas larvas de mosquito, esses cristais são dissolvidos no ambiente alcalino do intestino médio, liberando toxinas ativas (Cry4A, Cry4B, Cry11A e Cyt1A).
Essas toxinas se ligam a receptores específicos nas células epiteliais intestinais, formando poros na membrana e levando à lise celular, paralisia intestinal e morte da larva.
O processo ocorre em poucas horas e é altamente específico, reduzindo o impacto sobre espécies não-alvo.
4. Aplicação no Controle da Dengue
O Bti é utilizado principalmente no controle de formas imaturas (larvas e pupas) do Aedes aegypti em criadouros artificiais, como caixas d’água, pneus e recipientes domésticos. Pode ser aplicado na forma de formulações líquidas, granuladas ou pastilhas de liberação lenta.
Diversos programas de saúde pública, como os conduzidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde do Brasil, têm adotado o uso de Bti em campanhas de controle biológico, com resultados positivos na redução da densidade vetorial sem causar danos ecológicos.
5. Vantagens e Limitações
Vantagens:
-
Alta especificidade para larvas de mosquitos;
-
Ausência de toxicidade para seres humanos, animais e plantas;
-
Reduzido impacto ambiental;
-
Possibilidade de integração com outras medidas de controle (manejo integrado de vetores).
Limitações:
-
Eficiência reduzida em ambientes com alta carga orgânica;
-
Necessidade de reaplicações periódicas, devido à degradação natural do produto;
-
Efeitos limitados sobre formas adultas do mosquito.
6. Perspectivas Futuras
Pesquisas recentes buscam aumentar a persistência e a eficiência do Bti por meio de técnicas de encapsulamento e formulações de liberação controlada. Além disso, a integração de Bti com novas abordagens, como mosquitos geneticamente modificados e armadilhas automatizadas, pode potencializar os resultados do controle da dengue de forma sustentável.
7. Conclusão
O Bacillus thuringiensis israelensis representa uma ferramenta eficaz e ecologicamente correta no controle da dengue. Seu uso em programas de manejo integrado de vetores demonstra que é possível conciliar eficiência biológica, segurança ambiental e sustentabilidade. O avanço tecnológico na formulação e aplicação desse bioproduto tende a consolidá-lo como um pilar essencial nas estratégias de combate a doenças transmitidas por mosquitos.
Referências Bibliográficas
-
WHO. Bacillus thuringiensis israelensis (Bti) for mosquito control. World Health Organization, 2020.
-
Lacey, L. A. et al. (2017). Bacillus thuringiensis and its applications in mosquito control: A review. Journal of Vector Ecology, 42(1), 1–12.
-
Regis, L. et al. (2012). Sustained reduction of the dengue vector population through an integrated control strategy using Bacillus thuringiensis israelensis. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 106(5), 324–331.
-
Bravo, A., Gill, S. S., & Soberón, M. (2007). Mode of action of Bacillus thuringiensis Cry and Cyt toxins and their potential for insect control. Toxicon, 49(4), 423–435.
Nenhum comentário:
Postar um comentário